sábado, 14 de novembro de 2009

ÀSE – Uma Força Poderosa


ÀSE – Uma Força Poderosa

A concepção do termo àse é fundamental e de extrema importância em toda a Religião Yorùbá. O conceito de àse, baseia-se na crença em que, tudo que existe no àiyé e no òrun, esta dotado da divina graça de Olódúmarè – O Ser Supremo.
A Tradição Oral, mantem que antes da criação do universo, Olódúmarè existia somente na forma de àse, uma energia geradora de força vital. Com o tempo, o àse assumiu a consciência daquilo que chamamos de Ser Supremo, de Universo e tudo o que Dele tem sido procriado. As vastas expansões do Universo nos primórdios da criação, resplandeceram com a energia desenfreada e doadora de vida que faz com que tudo seja possível – o àse e a existência começou a prosperar e a se propagar. Os Yorùbá, acreditam que quando o universo foi criado, a cada coisa lhe foi dado o poder do àse, a energia mítica da qual dependem as muitas essências de vitalidade e de existência. As divindades emanadas do próprio Olódúmarè, através e com o àse, assistem ao Ser Supremo na tarefa do universo, são os primeiros seres antropomórficos que resultaram do àse. As divindades são consideradas, como personificações de “qualidades divinas” de Olódúmarè. Este é o rol como mediadores entre a humanidade e o Ser Supremo.
O Ser Supremo, Longe de ser um Deus remoto, como repetidamente é descrito na literatura, Olódúmarè é eternamente presente e ativo, através do àse, em todos os elementos do universo. Síntese de tudo o que existe, receptáculo por excelência da força suprema e confluência de todas as forças existentes. Deste modo, o àse deve se entendido como a presença prolífica de Olódúmarè em tudo o que há no universo. Olódúmarè impulsiona a vida e a matéria. Como estas são “filhas” ou emanações de Olódúmarè, ambas são produtos e condutoras de àse, colocando uma “porção” do Ser-Supremo e da sua graça em cada elemento do universo. Então, através do àse, Olódúmarè é Onipresente, Oniciente e Onipotente, sempre atento as ações do universo, particularmente com aquelas dos seres humanos. O homem recebeu de herança uma parte deste àse - poder criador divino, o dom da mente, da palavra e da inteligência.
A palavra àse tem sido definido por muitos como: o poder-de-fazer-as-coisas-aconteceram, a força mítica do universo, o poder vital, a força de vida, a força divina vivificante ou mística, a força vital, mágico-sagrada, a energia, o poder místico e potencial de todas as divindades, deidades, entidades e de todos os seres animados do reino animal, vegetal e mineral. Esta presente em todas as coisas, concretas ou abstratas. Uma força mística, geradora ou potencializadora que abrangente e fortifica todo o sistema de crenças e funciona como principal ferramenta de adaptação, garantindo o desenvolvimento e a sobrevivência de toda uma religião.
Os antigos acreditam, que a crença no àse tem permitido aos escravos suportar o peso da escravidão, do colonialismo e dos muitos conflitos encontrados durante a imposição do cristianismo. Esta crença foi primordial para a continuidade da religião e que esta mative-se viva até os tempos atuais. A religião a pouco tempo , tem abraçado e incorporado muitos povos de diferentes culturas e nacionalidades. O àse tem-se demonstrado ser crítico na adaptação e sobrevivência da religião e também, um meio para a compreensão de uma visão de mundo dos povos estrangeiros, diferente da afro-descendentes.
Em realidade, nenhuma definição é capaz de prover um cômputo satisfatório de tudo o que o àse é e encerra. De natureza própria, o àse é inefável. Não obstante, Pierre Verger tem, dado uma das melhores descrições de àse Aplicando a teoria de Durkhrin ao conceito de àse, Verger registra:
...os iorubas nunca viram o ase, nem pretendem personificá-lo. Nem podem defini-lo por atributos e características determinadas. Ele envolve todo mistério, todo poder secreto, toda divindade. Nenhuma enumeração consegue exaurir esta idéia infinitamente complexa. Não é um poder definido ou definivél, é o próprio Poder no sentido absoluto, sem epíteto ou determinação de alguma espécie...é o princípio de tudo o que vive, age ou se move. A vida inteira é àse.
Na maior parte, todos estudiosos coincidem, basicamente, com os mesmos princípios: “O àse é tudo, e o mais, por própria natureza, o àse é existência. Sem àse, nada é possível. Não obstante, nenhuma definição lhe faz justiça, por sua essência o àse está além de definições e da completa compreensão humana.
A Religião Yorùbá, seja no tradicionalismo ou na diáspora é altamente dependente do àse, o dote mais sagrado e reverenciado da humanidade. O àse é tudo o que foi e o que será: O àse é eterno. O mais importante é que o àse é prontamente acessível e disponível, ideal para o progresso e o bem-estar do Homem.
Ainda que sua extensão seja incomensurável, o àse como personificação do poder, da energia e da autoridade não está igualmente distribuído. O grau de àse vária de acordo com o seu anfitrião. Esta noção encontra-se exemplificada num mito muito conhecido, e recitado na adivinhação que descreve a distribuição de àse e de conhecimento por todo o mundo. De acordo com o mito, quando a cabaça da sabedoria caiu das mãos de Ogbe-Odi, o àse e o conhecimento foram dispersos por cada canto da Terra. Cada um e cada coisa sobre os quais ele se inclinou, obteve algum grau de àse, dependendo de quanto foi impelido para áreas particulares do cosmos. Os advinhos enfatizam que nada deve ser subestimado, desde que o seu grau de àse não possa ser completamente determinado.
O àse é ao mesmo tempo universal e imortal, mas nunca estagnado ou imutável. É uma energia maleável que pode ser reinterpretada e revigorada, constantemente evoluindo e crescendo através do tempo. Os humanos são os principais beneficiários desta energia. Desde que estes prosperaram separadamente em seus meios ambientes, o àse tem sido aprendido, interpretado, entendido e aplicado em diferentes maneiras e em diferentes momentos. Os seres humanos podem se encarregar desta energia e usá-la para satisfazer suas necessidades, idealmente, para o avanço material e espiritual, individual e coletivo e para o desenvolvimento do iwá – o caráter moral que ordena respeito e reverência. Uma vez em harmonia com o àse, os seres humanos passam a viver sus vidas produtiva e completamente.
Ausente da filosofia Yorùbá está a popularizada (ainda que não necessariamente correta teologicamente) noção judaico-cristã de uma batalha entre o bem e o mal. Para os Yòrúba, a dualidade entre um Ser Supremo Onipotente e Sua antítese é inexistente. Olódúmarè e àse são as causas de tudo, seja positivo ou negativo. Olódúmarè é começo e o fim. Bem e/ou mal são resultados de ações humanas e não de uma batalha cosmológica entre duas entidades ou duas forças. O àse é neutro, nem bom nem mau, nem moral nem perverso, nem puro nem impuro. O àse é simplesmente um tipo de energia irrefreável que é geradora por natureza; um poder no bruto que quando acessado pelos seres humanos é direcionado, e seu propósito é definido de acordo com a situação particular e/ou com a necessidade individual. É a ação humana, e não a energia por si mesma, o que determina onde e como o àse será usado ou mal empregado.
O iwá é de extrema importância em seu relacionamento com o àse, desde que o comportamento apropriado na Terra influencia o acesso humano ao àse, tanto na vida presente quanto na ulterior. Olódúmarè monitora a conduta de um indivíduo, durante a vida deste, através das divindades que mantêm “registros” do comportamento humano. Outra das várias funções de Òrìsànla é ensinar moralidade e ordem à humanidade, servindo de exemplo a ser seguido pelo criador do seres humanos. Ele estabelece padrões muito altos de moralidade para seus seguidores e não se refreará ao punir os infratores. Desenvolver o iwá-pele - o bom caráter moral, requer não somente devoção e respeito por Olódúmarè, pelas divindades e os ancestrais, mas também pelos seres humanos e por todas as criações de Olódúmarè. É importante (e exigido) que o indivíduo seja um bom filho, um bom irmão, um bom pai, um bom cidadão. A pessoa que possui iwá-pele deve servir de exemplo para aqueles que a rodeiam ou aos seus companheiros. Estas características são componentes integrantes e indispensáveis para adquirir um bom caráter.
Contudo, à humanidade lhe foi dada liberdade de escolha. Os humanos são criaturas apaixonadas e às vezes são cegadas por suas próprias paixões. Aqueles que se desviam do caminho apropriado do iwá-pele, e empregam mal o àse para maldades ou propósitos pessoais, sofrem as conseqüências de suas ações durante as suas vidas e também após a morte. Assim, ainda que o àse possa carecer de “conotações morais”, tal como alguns estudiosos têm declarado, a importância colocada em desenvolver o iwá-pele adiciona dimensão moral ao uso ou desuso da energia de Olódúmarè. Finalmente, ainda, a responsabilidade repousa nas mãos do indivíduo.









ÀSE – Uma Força Poderosa – Parte II
O ÀSE NO SER HUMANO.
O àse de Olódúmarè reside no orí - a cabeça humana, mais precisamente no orí inú – o interior da cabeça, onde encontra-se a essência do ser; e Sua presença é conhecida por Elédá — O Senhor da Criação, um título de Olódúmarè que exalta a responsabilidade por toda a criação, cujo o qual Ele existe por Si mesmo. Juntos, funcionam como o Òrìsà pessoal do indivíduo, uma espécie de "anjo-da-guarda" ou atendente na vida do ser humano. O orí também é a morada do Odù – o signo regente da vida, o destino humano; o ìpònrí, a força vital ancestral; o Òrìsà, a divindade tutelar e os ewò, os tabús, proibições e deveres. O orí é o maior benfeitor da humanidade. Os Yòrúba acreditam que todos as ações dos homens na Terra são predestinadas por Olódúmarè e determinadas de três formas:
• 1ª A pessoa se ajoelha e escolhe o seu destino. Esta forma é denominada Àkùnlè yàn - "Aquele que se ajoelha e escolhe";
• 2ª A pessa se ajoelha e recebe o seu destino, que é determinada Àkùnlè gbà - "Aquele que se ajoelha e recebe";
• 3ª O destino lhe é fixado, lhe é determinado. Esta forma é denominada
À yàn mò - "Aquele que escolhe e determina o destino para alguém".
Assim são estabelecidas as três etapas para a escolha do destino, cuja sustentação está no fato da pessoa ter de se ajoelhar perante à Olódúmarè para a confirmação daquilo que lhe é destinado e Ele comunica sua benção ao orí do indivíduo não nascido, ainda em forma de à se. O que quer que lhe seja confiado é inalterável e se torna parte da pessoa para o resto da vida. Todo esse ritual é assistido por Òrúnmìlà , que se torna testemunha do que está sendo determinado, o Elérìí ìpín – aquele que é testemunha do destino. Por essa razão, as nuances deste destino podem ser devidamente acompanhadas, através de consulta ao Oráculo de Òrúnmìlà – Ifá, e com a possibilidade de reajustar o que está em dissonância com o que foi determinado, através de seus vários subterfúgios.
No nascimento, Olódúmarè, na qualidade de Elémí – Senhor do sopro da vida, exala àse na forma de emí — hálito, dá o poder da respiração e a vida começa. Esta presença dual do Criador nos seres humanos toma a forma de Eledá, a silenciosa, mas observadora testemunha da existência humana que, posteriormente, tudo retornará à Olódúmarè para julgamento das ações da pessoa na Terra.
O relacionamento entre orí e El edá , e o grau de àse que os seres humanos podem possuir, é realçado através da iniciação no culto aos Òrìsà. "Assentando" o Òrìsà na cabeça do noviço, o àse recebido originalmente no nascimento, é reforçado pela presença do Òrìsà na vida do indivíduo. O orí continua a funcionar como assentamento do destino e do Òrìsà pessoal do indivíduo, enquanto a divindade tutelar adquiriu funções em conjunção com o orí e o Eledá na iniciação, trazendo equilíbrio, harmonia e estabilidade à existência do indivíduo. O potencial humano é aumentado, permitindo ao devoto viver uma vida cheia e próspera.
Os Òrìsà têm a mais estreita proximidade e acesso ao àse de Olódúmarè. Inumeras divindades foram sua primeira prole, emanando d'Ele através do àse Cada Òrìsà possui seus próprios domínios nos afazeres do universo e a maioria também esta relacionada aos fenômenos naturais, tais como oceanos, o vento, o trovão e assim sucessivamente. O àse, como manifesto nas forças da natureza, é apaziguado, cultuado e reconhecido como o inseparável elo na delicada interconexão e interdependência que existe entre os seres humanos e seus ambientes naturais. Ademais, a maioria dos Òrìsà supervisa diferentes aspectos da vida e da existência humana, tais como o nascimento, doenças, morte, aptidões, habilidades e assim por diante. O mais importante, os Òrìsà, assim como os seres humanos, possuem tanto defeitos quanto virtudes. Suas personalidades variam do racional ao ilógico, diferindo dos humanos somente pelo status e poderes que Olódúmarè lhes concedeu. Este aspecto faz com que o relacionamento entre os devotos e os Òrìsà, seja não apenas pessoal, mas também prático. Não se espera que os humanos sejam perfeitos. Se os Òrìsà podem errar, também o podem os seres humanos. A perfeição para os Yoùbá é um domínio exclusivo de Olódúmarè – O Deus todo perfeito.
O relacionamento entre os iniciados e suas divindades tutelares é pessoal e individual. Os iniciados no culto se consideram omo Òrìsà — filhos das divindades. O orí e os Òrìsà assistem seus omo para que adquiram àse, intercedendo por sua causa com as forças do universo, assim como os pais interviriam a favor de um filho. Eles proporcionam àse com e para o equilíbrio das necessidades humanas.
Os Yorùbá e suas contrapartes no Novo Mundo consideram a vida e o viver desejáveis. O òrun tem seu grande valor, mas se lhes for dada a opção, a vida na Terra e entre seus descendentes diretos é preferida à vida no além, não importando quão gratificante possa ser o òrun. A qualidade de vida é também importante, e provavelmente ainda mais importante do que a quantidade daquela é sempre a possibilidade de reencarnar e de retornar à Terra. Nenhum Yorùbá quer viver uma existência desonrosa ou insatisfatória na Terra. Viver uma vida completa na Terra, rodeada pelos confortos e pelos troféus



ÀSE – Uma Força Poderosa – Parte III
O ÀSE DO ÒRÌSÀ
O àse do Òrìsà não aparece espontaneamente, só pode ser adquirido pela introjeção ou por contato, transmitido durante os ritos da iniciação. Como toda força o àse é transmissível; conduzido por meios materiais e simbólicos e acumulável. Assim sendo, poderiamos dizer que o àse é ao mesmo tempo abstrato e concreto, podendo ser transmitido a objetos, lugares ou a seres humanos. Todo objeto, ser ou lugar consagrado só o é através da aquisição de àse que devem acumula-lo, mante-lo e desenvolve-lo. O àse esta contido numa grande variedade de elementos representativos do reino animal, vegetal e mineral. Esta força transmitida ritualísticamente através de certos elementos materiais dos três reinos, mantém e renova neles os poderes de realização. A energia mística contida nestes elementos é materializada e sua energia animadora, dirigida a resolver as crises da vida. Esta é uma das mais importantes qualidades do àse, o fato de não apenas existir, mas também de poder ser usado, manipulado e proporcionado para fruição adicional.
Os Babalòrìsà, Ìyálòrìsà, Ìyálàse e outros inumeros “cargos” são consignados a cuidar do àse, e a assegurar que sua força seja reativada e revitalizada sempre que for necessário. Eles contam com um amplo corpo de conhecimento ritual e místico, confirmado primeiramente pela adivinhação e que outorga acesso à energia do àse para cura, desenvolvimento e outras finalidades restauradoras. O conhecimento, o entendimento, a sabedoria e o desenvolvimento iniciático estão em função da absorção e da elaboração de àse.
Como toda força o àse pode diminuir ou aumentar. Essas variações estão determinadas pela tividade e conduta rituais. Conduta esta estabelecida pela escrupulosa observação dos deveres e das obrigações regidas pela doutrina e prática litúrgica de cada detentos de àse, para consigo mesmo, para com o grupo de iniciados a que pertence e para com o Terreiro. O desenvolvimento do àse individual e o de cada grupo impulsiona o àse do local de culto. Quanto mais uma comunidade religiosa é antiga e ativa, quanto mais os sarcedotes e sacerdotisas encarregados das obrigações rituais apresentam um grau de iniciação elevado, tanto mais poderoso e forte será o àse do Terreiro.
Como mencionado anteriormente as representações materiais do àse contidos nos três reinos são veículos, através dos quais os iniciados servem como condutores desta energia entre òrun e o àiyé , entre o profano e o sagrado. Toda planta, todo animal, toda raiz, um tipo particular de rocha, uma pena, água do mar ou de um rio, todas as coisas na Terra são animadas pelo àse e por isto, podem ser usadas para acarretar um resultado em particular. As possibilidades são infinitas. A combinação apropriada destes elementos e seu àse individual são convocados recitando seus respectivos ibà – saudações; Oríkì – evocações; adúrà – orações, súplicas; ofò – palavras mágicas, encantamentos; orin – cantos, preparando e executando diversos ritos, os devotos atuam conscienciosamente para jaezar o àse e dirigi-lo, aplica-lo a diversas finalidade ou realizações, tanto para o bem como para o mal. Se canalizado com o devido respeito e apropriadamente, o àse põe o ser humano em contato com a mais pura e sagrada das energias de todo o universo, o próprio Olódúmarè.
A comunicação e o alinhamento apropriado entre o òrun e o àiyé através do àse , acentua a beneficência do aqui e agora e também assegura ao devoto seu lugar daí em diante. Mas se o àse pessoal do indivíduo está maculado pela conduta ou ações inapropriadas na Terra, a energia Divina é afetada adversamente e os resultados desejados são desmantelados. O sacerdote tradicional só pode entrar nos locais sagrados após um banho ritual de purificação, preparado com folhas frescas ou cozimento de certas cascas, raízes ou sementes, escolhidas em função do dia. Em seguida veste-se de modo especial, uma vez que não pode entrar nos locias sagrados vestidos com roupa comum. O sacerdote tradicional prepara-se para ter acesso ao àse alguns dias antes, tais como abstinência sexual além de evitar vários outros tabus dos quais possa comprometer sua conduta religiosa. Idealmente, o impuro ou inapropriado não podem estar em contato com a mais pura das energias do universo.
Todo iniciado, seja em que grau iniciático que se encontre, deve estar muito bem instruído na manipulação do àse material, ou seu próprio àse perde validade diante dos olhos de sua familia religiosa e de seus seguidores. Ter um considerado grau de àse dentro de todo um contexto religioso, é uma qualidade que todo iniciado deseja, mas nem todos alcançam tal “status”. O àse do Òrìsà não resulta somente da iniciação, mas também é desenvolvido e incrementado através de rituais, da conduta e da aquisição de conhecimento e experiência. Ter a bênção do conhecimento, do entendimento e da sabedoria ou melhor, usá-lo conscietemente é ter àse. O conhecimento é um dos muitos domínios do àse.
O conhecimento ritual é altamente valorizado, mas também é muito guardado e não facilmente compartilhado. Determinados conhecimentos são e serão um àse que nem todos nasceram para adquirir. Tal como é implícito ao mito de Ogbe’di, todos obtivemos algum nível de conhecimento, mas nem todos o adquiriram por completo. Alguns ensinamentos se caracterizam por serem “restritos” a um grupo menor de iniciados, por serem mais amplos dentro do ritual litúrgico. Desta maneira o conhecimento é colocado em partes, dividido e disperso entre uma única comunidade. Assim diz o òwe – parábola, provérbio – A sabedoria está repartida !. Até mesmo os mais expertos em rituais não são oniscientes. Muitas vezes podem ter necessidade de consultar outros sacerdotes, que podem ter mais conhecimento do que eles a respeito de um determinado Òrìsà ou de um ritual em particular. Ainda, em algum momento da vida, o conhecimento deve ser compartilhado, pois se não for passado aos descendentes, estará perdido, resultando na perda de uma ferramenta valiosa de acesso ao àse. A maioria dos Babalòrìsà e Ìyálòrìsà possui um ou mais aprendizes, de sua maior confiança, que preenchem os requisitos que muitos “mestres” estimam como necessários para a transmissão do seu conhecimento e de seu àse.

ÀSE – Uma Força Poderosa – Parte IV
O ÀSE NA PALAVRA PROFERIDA
No modelo de origem, muito valorizado pelo povo-de-santo, especialmente os de linhagem étnica Yorùbá, há um sentido ancestre e de eficácia social e religiosa fixado na palavra. A palavra tem energia própria e é valorizada por quem profere, entoa, fala, produz em som logicidade reconhecida.
O àse é especialmente poderoso na fala, conhecido como soro àse – que poderemos interpretar como “o poder da fala”, assim como nos sotélè – ato ou efeito de predizer, profetizar. O àse é materializado através das palavras, em toda a classificação oral: nos ibà - saudações; nos Oríkì – evocações; nos adúrà – orações, súplicas; nos ofò – palavras mágicas, encantamentos e nos orin – cantos e cantigas.
Na tradição africana, portanto, concebe a fala como um dom de Deus. Ela é ao mesmo tempo divina no sentido descendente e sagrada no sentido ascendente. Olódúmarè como se ensina, depositou no Elédá de cada ser humano, as três potencialidades: do poder, do querer e do saber, contidas nos elementos dos quais o àse do Elédá foi composto. Mas todas essas forças, das quais o homem é herdeiro, permanecem silenciadas, ficam em estado de repouso até o instante que a fala venha colocá-las em movimento. Vivificadas pela palavra divina, essas forças começam a vibrar. Numa primeira fase, tornam-se pensamento; numa segunda, som e numa terceira, a fala. A fala é portanto, considerada como a materialização ou a exteriorização, das vibrações das forças. Como no soro àse falar é “dar força” e, por extensão, “materializar” o àse.
O termo afose significa “Que a palavra possa tornar-se realidade”, entendendo-se desta forma, que as palavras, para que possam agir, precisam ser pronunciadas e que possa o àse ser materializado. Nas canções rituais e nas fórmulas encantatórias, a fala é, portanto, a materialização da cadência e se é considerada como tendo o poder de agir sobre as Divindades, é porque a sua harmonia cria movimentos, movimentos que geram forças que agem sobre as divindades que são, por sua vez, as potências da ação.
Principalmente nas orações e nos sacrifícios, o àse é invocado pela boca nutrida pelo àse da alimentação, pelo hálito preparado, pelo obì – Cola acuminata, orógbó – Garcinia kola, ataare – Afromomum melegueta, entre outros ingredientes, da a dimensão especial, qualificando a palavra e sua eficácia em dimensão litúgica dentro da religião.
A fala é uma força tão poderosa dentro do àse que a mesma cria uma ligação de vaivém entre os dois mundos òrun – àiyé, que gera movimento e ritmo, vida e ação, colaca em movimento forças latentes, que são ativadas e suscitadas por ela - “como um homem que se levanta e se volta ao ouvir seu nome”. Por esta razão os antigos não pronunciam determinados nomes conhecidos por Ajogun – os inimigos dos homens. O mau uso do afose proferido, pode ter efeitos deletérios para o àse e por ser poderoso nos èpe – pragas, maldições ou em qualquer ato de invocar o mal para outrem.
Nas tradições africanas, a palavra falada se empossa, além de um valor moral fundamental, de um caráter sagrado vinculado à sua origem divina e as forças ocultas nela depositadas. Agente mágico por excelência, grande vetor de forças etéreas, não deve ser ultizada sem prudência.
De um modo universal, a fala pode criar a paz, assim como pode distruíla, é como o fogo. Uma única palavra imprudente pode desencadear uma guerra, do mesmo modo que um graveto em chamas pode provocar um grande incêndio. A tradição, pois, confere a palavra, não só um poder ilimitado, mas também a dupla função de conservar e destruir. Por essa razão a fala, por excelência, é o grande ativo da magia africana.

inglês

ASE - A Powerful Force

The conception of the term àse is fundamental and very important throughout the Yoruban religion. The concept of àse, based on the belief that everything in Aiye and Orun, this having the divine grace of Olodumare - The Supreme Being.
The Oral Tradition holds that before the creation of the universe, Olodumare existed only in the form of àse, an energy-generating force. Over time, ASE has become aware of what we call the Supreme Being, the Universe and everything that has been begotten of Him. The vast expanses of the universe at the dawn of creation, glittered with unbridled energy and giver of life that makes everything possible - the existence àse and began to thrive and propagate. The Yoruban believe that when the universe was created, every thing was given the power of ASE, the mythical power of which depends on the many essences of vitality and life. The deities emanating from Olodumare own, through and with the àse, assist the Supreme Being on the task of the universe, are the first anthropomorphic beings that resulted from àse. The deities are regarded as embodiments of "divine qualities" of Olodumare. This is the role as mediators between humanity and the Supreme Being.

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